terça-feira, 23 de dezembro de 2008

No RJ balas perdidas fazem preço de imoveis cair

Nem dentro de casa o carioca está a salvo de ser vítima de bala perdida. A situação, absurda, já influencia o mercado de imóveis, fazendo o valor de unidades em áreas consideradas de risco despencar: a desvalorização varia de 30% a 50%.

Segundo o presidente da Abadi (Associação Brasileira das Administradoras de imóveis), George Eduardo Masset, os preços têm caído em 30% em bairros como a Tijuca, São Conrado e outros, no entorno da Linha Amarela.

O presidente do Creci-RJ (Conselho Regional dos Corretores de imóveis), Casimiro Vale, afirma que, em alguns casos, a queda de preço em função da falta de segurança chega a 50% e acontece no mesmo prédio.

"Às vezes, uma varanda é virada para a favela e a porta do vizinho de frente é voltada para o mar. As duas unidades estão no mesmo corredor, mas têm diferença de preço devido à localização", afirma Vale.

De acordo com o diretor da PHD Imobiliária, Alexandre Mattos, a venda de imóveis em áreas de risco leva até um ano. "Na maioria das vezes nem o preço baixo atrai a clientela", diz. Quando a unidade tem boa localização, a venda pode ser feita em 30 dias.

São cada vez mais freqüentes anúncios classificados de venda de imóvel que destacam apartamento "sem risco de bala perdida" ou casa "longe do morro".

A psicóloga Luciane Goldstein, 33 anos, colocou seu apartamento na Tijuca à venda na Internet e destacou no anúncio que o imóvel não corre risco de bala perdida. "Agora, a primeira pergunta das pessoas interessadas no imóvel é se fica perto de morro", diz. A segurança é a primeira característica na lista dos compradores, e não mais fatores como o sol da manhã, comércio, transporte ou colégios bons próximos.

Bala invasora

A bala que atingiu o aposentado Pedro Moura Filho, no início da tarde do dia 7, veio de um tiroteio entre bandidos e policiais na Rua Paranhos com a Rua Paranapanema, em Olaria. Alguns traficantes eram alvo dos agentes que fizeram a operação no dia anterior no Complexo do Alemão.

"Ouvimos muitos tiros e logo depois vimos que eu estava ferido. Não senti nada, nem dor nem queimação. Mas tinha um calombo da bala", lembra. Levado às pressas ao Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), Pedro Moura conta que ficou assustado ao ver a quantidade de vítimas que buscavam atendimento na unidade, também atingidas por balas perdidas. "É um absurdo continuarmos nessa situação de inércia. Não podemos nos mexer, estamos atados. Como resolver um problema como esse, se nem dentro de casa a gente tem paz?", questiona, indignado.

Sustos dentro de casa

Um aposentado e uma dona-de-casa foram vítimas de balas perdidas dentro de suas residências, na Zona Norte. Dia 7, o "alvo" foi o aposentado Pedro Moura Filho, 59 anos, em Olaria. Na véspera, no bairro de Del Castilho, tinha sido a vez de Adriana Santana de Araújo, 31.

Pedro está traumatizado e quer se mudar. Morando de aluguel próximo à Vila Cruzeiro, uma das mais violentas favelas da zona norte, ele sabe que será difícil para o dono do imóvel alugar novamente o apartamento. "Ele é um homem bom e não merecia isso. Mas também não posso ficar aqui, esperando ser atingido de novo ou expondo minha família ao risco", explica ele.

A bala que o atingiu entrou furando a cortina da janela do quarto, atravessou sua perna direita, bateu numa cadeira e passou entre as pernas de uma de suas filhas, que estava num sofá. "Procuramos a bala e não encontramos de imediato. Depois, vimos que ela 'atingiu' o sofá novo, que compramos há pouco mais de um mês. Tenho netos pequenos.

E se eles estivessem ali e fossem atingidos? Meu trauma seria muito maior", diz o aposentado que, quando foi ferido, se preparava para almoçar com a família. "O momento do almoço sempre foi sagrado. Nesse dia, fomos interrompidos por uma bala."

Segundo o presidente da Abadi, George Eduado Masset, a Barra é o bairro que garante a maior sensação de segurança. Moradores de prédios com serviço de transporte coletivo privado estão deixando os carros em casa e optando pelos ônibus particulares dos condomínios devido aos assaltos a motoristas.

Ele explica ainda que a busca por condomínios que permitem que as famílias criem os filhos com lazer completo sem sair da área de segurança já é tendência a caminho de outras regiões.

O problema impulsiona o setor de material de construção: as pessoas passam mais tempo em casa e fazem reformas para se divertir sem sair.

(Invertida)

Fonte: GazetaWeb.com

Data: 18/03/07

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