terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Setor imobiliário capta R$ 10 bi

Agência Estado


Até quarta-feira, quando o Shopping Iguatemi fará sua estréia na Bovespa, 15 empresas do ramo imobiliário já terão feito oferta de ações na bolsa num prazo de apenas 11 meses. O dinheiro captado nessas operações é próximo de R$ 10 bilhões, um volume nunca antes visto nessa indústria de uma tacada só.

Até o fim do ano, outras oito companhias podem seguir o mesmo destino.

Se de um lado a corrida ao pregão é o resultado natural de expectativas otimistas dos empreendedores imobiliários brasileiros, de outro acende uma luz amarela no mercado financeiro. A grande questão é: haverá espaço para todas as empresas na bolsa? Alguns especialistas apostam que não.

Não há dúvidas de que o mercado imobiliário vai deslanchar com a queda da taxa de juros e o aumento do volume e dos prazos de financiamento. A festa, porém, não deve ser igual para todos. "É cedo para dizer quais empresas vão se dar bem. Em termos macroeconômicos, é um setor interessante, de grande potencial. Mas o mercado vai ter suas preferidas", afirma o analista de investimentos do Banco Modal Eduardo Roche.

A chegada em massa dessas empresas à bolsa produz alguns efeitos na economia. O lado positivo é que as empresas se capitalizam para lançar produtos e acompanhar o crescimento da demanda. A parte ruim da história pode sobrar para o investidor, que corre o risco de apostar alto numa empresa hoje e perder dinheiro caso as expectativas não se cumpram. Além disso, para responder à pressão dos investidores por retorno, as empresas ainda podem inundar o mercado com lançamentos e ficarem com um estoque alto de imóveis.

Segundo Roche, já há sinais de que a euforia não é tão grande como no começo. "As últimas captações já saíram com preço médio, uma demonstração de que o mercado já está pedindo desconto. Nenhuma chegou ao topo." Isso não significa que as empresas que estão abrindo capital agora terão um desempenho pior que as outras. Até agora, o mercado tem valorizado aqueles que têm propostas diferentes. Uma boa demonstração disso pôde ser vista na estréia da construtora Rodobens, no começo da semana passada. A empresa, especializada em imóveis para a média e baixa rendas, chamou a atenção do mercado justamente por ser uma alternativa às demais, ainda concentradas no mercado de média e alta rendas.

"O investidor vai eleger duas ou três empresas. Não tem nem analista para tudo isso", afirma o diretor de relações com o investidor da Rossi Residencial, Sérgio Rossi. "O investidor está perdendo um pouco da racionalidade. As captações de agora estão um pouco exacerbadas, o que é ruim para todo o mercado imobiliário." A Rossi foi uma das empresas imobiliárias que puxaram a fila no pregão. Em fevereiro do ano passado, fez uma captação de R$ 1 bilhão, uma das maiores até hoje. Mas, no momento, as ações da empresa já não despertam tanto interesse como no começo. No último mês, os papéis da Rossi caíram 10,72%, enquanto o Índice Ibovespa teve queda de 0,85%. "Há uma disputa dos investidores pelas empresas. Eles estão realizando lucros com Rossi, Gafisa e Cyrela para investir nas novatas", afirma Rossi.

Segundo o executivo, a Rossi "sofreu um pouquinho mais" que as outras porque o mercado desconfiou das metas agressivas anunciadas na época da emissão de ações. "Mas o papel vai voltar a subir com a divulgação dos resultados em fevereiro", acredita.

Para Rossi, as companhias que estão chegando precisam se provar para o mercado. "A Tecnisa, por exemplo, captou quase R$ 1 bilhão. Como ela vai dar retorno operando só em São Paulo? Para migrar para outras praças, é preciso ter estrutura, parceiro local, projetos. É uma série de desafios que as grandes empresas já romperam", alerta Rossi.

Na opinião de Luís Largman, diretor de relações com investidores da Cyrela, outra pioneira, "o mercado é soberano". "As coisas vão se definir a longo prazo. Quem está comprando agora tem suas razões."

Fonte: Último Segundo

Data: 05/02/07

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